domingo, 22 de março de 2009

Pão e Rosas - autogestão.

O Felipe enviou um questionamento.

" A economia solidária em geral defende o exercício da autogestão no local de trabalho como parte do processo de emancipação do trabalhador, análise com a qual eu concordo bastante. No entanto é importante que mantenhamos um olhar crítico e nos perguntemos, se aqueles trabalhadores daquele prédio se organizassem como uma cooperativa de limpeza realmente autogestionária estariam então emancipados ou mesmo sentiriam prazer em seu trabalho? Aliás, é possível a autogestão no ramo de prestação de serviços? especialmente os de baixo valor agregado como a limpeza? Na minha opinião é importante que pensemos a autogestão no local de trabalho como processo de formação de consciência crítica, com um objetivo de transformação maior, e não como um fim em si mesmo. O que vocês acham?"


Auto gestão como princípio emancipador


A relação de prazer com o trabalho esta fortemente ligado ao conjunto de valores e situações vividas. Nada adianta ser cooperado, associado e não ter a atividade produtiva organizada de forma diferente do modelo de capitalista (fordismo/toyotismo .... maximizar lucros e maximizar custos - trabalhadores), que impede a relação de mediação homem-natureza de ocorrer.

A Forma que será feita a atividade produtiva (trabalho) é muito importante. A produção sem consciência (alienada) reifica as relações humanas, tudo passa a ser é mediado por valores econômicos, status e individuação. Esse processo valoriza o culto a privacidade e a idealização de um indivíduo abstrato.

Fiquei pensando sobre a autogestão no ramo da prestação de serviços e o que foi difícil assimilar é como ter autonomia nas decisões se sirvo aos interesses capitalista. Acredito que somente com a substituição destes mecanismos capitalistas de organização do trabalho é que acontecerá a autogestão. A substituição destas formas de produção que aparece como gargalo da questão.

Como fazer para que as coisas caminhem de outra forma? Como propor uma organização da atividade produtiva não alienante e ao mesmo tempo que possa sobreviver ao massacre capitalista?

Existem algumas iniciativa de produção artesanal que se propõe a essa outra relação, na qual o produto é o resultado da relação homem-homem / homem-natureza. Busca -se a construção de modelos que rompam com os fatores estritamente econômicos, levando em conta as relações de reciprocidade, abrangendo aspectos sociais e políticos, processos participativos e modificações nas relações de gênero.

A maior parte da produção artesanal é realizada por grupos ou indivíduos que são autogestionários o que possibilita formas de produção não alienada, mas mesmo assim tende a ser engolida pelo sistema capitalistas. Vejam só:

MARINHO argumenta que a organização da produção artesanal são esquemas produtivos diferenciados. A essência do trabalho artesanal e aprendizagem das técnicas de produção estão ligadas as antiga formas de transmissão de conhecimento – mestre e aprendiz. Muito mais do que ensinar habilidades e técnicas o Mestre-artesão transmitia a seus aprendizes seus valores, princípios e sua forma de relacionar-se com o mundo. Essa relação mestre-aprendiz possibilitava a acumulação de valores compartilhados, necessários para o fortalecimento dos laços comunitários.

Esses empreendimentos tem um distanciamento da forma tradicional (fordista/taylorista) de produção. As principais características da produção artesanal é que esta é, fundamentalmente, uma expressão subjetiva de quem faz. Sempre em pequena escala, com pequenas diferenciações entre as peças e processos produtivos completos (concepção e elaboração). As peças artesanais são analisadas por sua utilidade e funcionalidade e precisam ser acessíveis e também tangíveis.
Entretanto esta atividade nem sempre tem plena inserção produtiva (retorno sócio-econômico).

Para que isso ocorra é necessário dialogar com o sistema capitalista, estar sintonizado com os sistemas de comunicação e a outros setores econômicos: turismo, cultura, moda, decoração e tecnologia. Necessita investimentos na formação e aprimoramento das técnicas produtivas para uma melhora na qualidade do produto, e também colocar o produtor em conexão com informações econômicas e de mercado, é necessário profissionalizar o artesão (MARINHO). Ou seja, moldá-lo para se enquadrar nos sistema de produção e consumo de mercadoria, o que traz mais produtividade, reduz custos, se adequá melhor aos interesses de um mercado, tão abstrato quanto o indivíduo reificado.

Mesmo esse tipo de produção (artesanal) baseados em laços comunitários e familiares não resiste ao processo de dependência do mercado capitalista. Fico a imaginar quais seriam as possibilidades dos faxineiros, lixeiros que nem sempre são os proprietários dos meios de trabalho e o realizam em local alheio e estão a todo momento sujeito as vontades e ordens externas. Como praticar a autogestão, como determinar sua atividade produtiva– não alinhado pela necessidade e as regras das corporações econômicas?

Referencia:
MARINHO, Heliane. Artesanato: tendências do segmento e oportunidade de negócio.

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