domingo, 19 de julho de 2009

Notícia de Jornal

A proposta desta atividade era buscar uma reportagem que abordassem os temas e que houvesse sido veiculada na mídia.

encontrei na folha online uma matéria sobre desemprego e perda da Identidade de Contardo Calligaris, psicanalista e colunista da Folha de São Paulo.

A partir da reportagem teríamos de fazer uma reflexão sobre os temas:


A crise do emprego e da identidade do trabalhador


No artigo de Contardo Calligaris a questão que considero relevante é a construção da identidade a partir do emprego – o emprego dá sentido a vida, é através dele que é construída a identidade social da pessoa.

(...) é provável que todos os paulistanos conheçam um amigo ou um parente que, a cada manhã, olha no espelho e se pergunta por que fazer a barba ou por que escovar o cabelo” (Calligaris).

Aquele que encontra-se numa situação de desemprego, “não preenche as expectativas de provedor de seus dependentes, perde sua razão de ser". Desta forma a Identidade e papel produtivo andam junto. Calligaris aponta para um fator social, pois sempre que conhecemos alguém, logo surge a questão “o que você faz na vida?”, com que trabalha?.

Segundo Calligaris, ocorre uma mudança na referência social – antes era na família, nos antepassados, no local de nascimento... etc. E agora o trabalho/profissão assume a referencia social do indivíduo. Antes de ser alguém sou trabalhador – empregado ou não (pessoa economicamente ativa – PEA).

Portanto publicamente é a identidade de produtor1 que conta, pois vivemos numa organização capitalista e o que importa é minha capacidade de gerar valor (monetário).

Calligaris ressalta que “somos mais do que nosso ofício: temos histórias, amores, esperanças, interesses, paixões e crenças que, de fato, expressariam muito melhor quem somos. Ao trocarmos cartões de visita, mentimos por omissão. Identifico-me como executivo, bancária, escritor, médica, mecânico, mas quem sou eu?”.

Mas esta forma de ser mais ampla, além do meu ofício, não é e nunca foi condição da classe trabalhadora (empregados), que a muito é formada a partir da ideia de uma educação para o trabalho, para assumir uma função produtiva (emprego).

O trabalho/emprego aparece como fundante da identidade e ao mesmo tempo uma coisa totalmente externa ao ser humano, totalmente abstraído e alienado. Pouco importa o que faço. O importante é ter emprego, estar inserido no sistema produtivo/assalariado. Pois essa inserção permite o consumo dos códigos de pertencimento do mundo eufórico da mercadoria. O fetiche pela 'coisa', que realiza meus desejos de pertencimento social. Ou seja, a outra identidade dos trabalhadores é com o consumo, sou trabalhador e consumidor.

Escrevi isso faz alguns dias:

Diariamente, muitas, centenas de pessoas saem dos vagões do trem igual a 'estouro de gado'. Uma massa que ao abrir as portas vão rapidamente em direção da estreita escada de concreto. (...) As pessoas estão condicionadas, muitas com seus eletrônicos, com suas músicas prediletas para que todos ouçam e percebam que ele carrega o símbolo de pertencimento ao grupo que alimenta a produção de bens de consumo. Suas roupas com marcas e códigos dos fabricantes mundiais... mesmo que falsificado podem carregar o símbolo, o código que identifica toda uma nação de consumidores”. (http://pes-ponto.blogspot.com)


Concordo com Calligaris quando este afirma que “nos transformamos em sujeitos abstratos, resumidos por nossa função na produção e na circulação de mercadorias e serviços.” Perdemos todo o resto, passamo a viver em função de trabalhar e a inserção é pelo consumo.

Existe uma desconexão no mundo do trabalho - trabalhadores condicionados a situação de emprego e uma grande diminuição desta forma 'tradicional de emprego'. Ricardo Antunes reconhece a diminuição dos trabalhadores assalariados (emprego), com a re-estruturação produtiva do capital diminuiu a ofertas de vagas para assalariados. Ocorre a elevação da produtividade com diminuição de trabalhadores e aumento de jornada.

O modelo de emprego está em crise – existe uma forte pressão neoliberal baseada em técnicas de produção toyotizada que externaliza a produção e fragmenta o trabalho. Esse fatores geram uma nova configuração do mundo do trabalho. Hoje palavras com flexibilização, polivalência são o 'top'. O antigo modelo de trabalhador com conhecimento específico, especializado, o melhor numa única atividade representa um trabalhador desatualizado e não se encaixa mais no sistema, pois a lógica deste mudou.

O trabalho assume “formas mais desregulamentadas de trabalho”, diminuindo o trabalho estável. Os trabalhadores que não são absorvidos por esta nova modalidade (terceirização) passam a viver de 'bicos', pequenos serviços, coleta de material reciclado, abertura de pequenos comércios (vendinha – quitanda - bazar) e atividades ilícitas.

Para Calligaris a falta de emprego pode causar um grande estrago no ser humano e por consequência nas relações sociais. A perda do emprego é “ fonte de angústia, de depressão e mesmo, às vezes, de 'comportamentos anti-sociais', alcoolismo, violência familiar e condutas criminosas”. A sociedade está pautada numa situação de emprego e não de trabalho.

Na sociedade ainda é muito forte a defesa do trabalho-emprego, no qual o trabalhador tem sempre uma relação de dependência do capitalista, que gentilmente o emprega. Principalmente no Brasil que temos como herança a experiência da escravidão que gera nos homens e mulheres a resignação e submissão. Aceitar ordens, seguir mando, obedecer é uma memória 'genética', impregnada no corpo social. E a falta do emprego (feitor) causa um certo desespero. O que fazer se não temos emprego? Libertai-nos?!

Calligaris aponta que a perda do emprego está no mesmo nível de fatores como as catástrofes naturais, a morte de uma pessoa amada, o estupro, a doença grave, a separação ou o divórcio.

Com tudo isso fica as questões: Como reverter essa situação? Com que alternativas os trabalhadores contam, para que ao ficarem sem a relação assalariada possam criar condições de trabalho que permita a reconstrução de sua identidade de trabalhador, trabalhador livre, que determina seus ritmos. E não um ser condicionado que vive um sistema de repetição de ações se nenhum questionamento.

Visualizo a economia solidária como a possibilidade desta prática ser a conquista de uma nova identidade para os trabalhadores. A possibilidade de uma outra organização social, com outras regras econômicas cria uma nova solidariedade fazendo com que as pessoas se descubram produtivas, capazes de gerar seu sustento sem a dependência do emprego Desta forma resgatar o sentido do trabalho.... no qual o ser humano é capaz de transformar a natureza a seu favor, para melhorar sua condição de vida.

1pessoa economicamente ativa