segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Os limites e possibilidades de processos de autogestão

Na história da revolução capitalista o trabalhador que detinha a posse sobre seu trabalho vai gradualmente perdendo seu saber e tornando-se um trabalhador desqualificado. Num primeiro momento houve uma resistência às novas forma de produção baseadas nas maquinofatura. Entretanto com o passar do tempo essa luta assume novos contornos e passa a ser a luta pela “construção de um novo mundo à base das novas forças produtivas mas em que a cooperação e a igualdade tomem o lugar da competição e da exploração” (Singer p.31), este é o cerne da luta socialista.

Paralelamente a essa luta de resistência às formas capitalista de produção foi correndo a busca, por parte dos trabalhadores, por amparo institucional do Estado. Num primeiro momento este negou os direitos aos trabalhadores e apoiou o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, para somente após muita luta e resistência elaborar alguma legislação trabalhista e reconhecer a legitimidade da organização sindical e da realização de atos grevistas.

Um momento importante desta luta por direitos foi o movimento Cartista que teve como objetivo conseguir poder político para os operários numa tentativa de conquista do poder político democrático. Os trabalhadores passaram a ser organizar e revindicar direitos sociais e políticos, como o direito ao sufrágio universal. Para Singer este é a maior conquista socialista que o movimento dos trabalhadores conseguiu.

Durante os momentos de resistência da classe trabalhadora foram várias as vezes que a autogestão apareceu como forma de manter os postos de trabalho, sejam estes os tradicionais empregos ou mesmo novas fomas de organização social – co-operative. Entretanto apenas em poucos momentos a classe trabalhadora conseguiu manter processos de autogestão como a negação ao sistema capitalista. A experiência da Comuna de Paris foi uma das tentativas de organização de uma nova organização social pela tomada de poder. E a guerra civil espanhola ficou entre uma luta contra o fascismo e algumas expressões anticapitalista, que foram suplantadas. As primeiras experiências de 'comunidades comunitárias1' autogestionárias foram possíveis por serem financiadas pelo capital de alguns benfeitores2.

Neste estágio da história a luta já se dava por conseguir melhores condições de vida e trabalho, pois a ideia de resistência ao capitalismo industrial já havia se desfeito.

Os sindicatos se aproximam das ideia de Robert Owen, ocorrendo uma mudança ideológica. Estes passaram a “desenvolver um projeto de sociedade em que seus interesses pudessem ser realizados através dos aproveitamentos das forças produtivas desencadeadas pela máquinas e pelo motores.” (Singer, p.38). Dentro deste contexto de garantia de qualidade de vida as cooperativas aparecem como “reações defensivas de trabalhadores”, e neste caso eram as cooperativas de consumo, que garantiam acesso a bens de primeira necessidade, e ou para baratear processos de manufatura de cereais.

Estavam sempre voltadas para o abastecimento de seus sócios, uma forma de minimizar os males causados pela industrialização, que por um lado aumenta a quantidade de bens produzidos e por outro do aumento da perda do trabalho. Singer aponta as cooperativas como desdobramento dos trade clubs, pois eram consideradas sociedades mutualistas. Estes trabalhadores se organizavam em sociedades para formação de fundos, um tipo de seguridade para possíveis emergências (doenças e óbitos). Singer ressalta a existência da cooperativa formada por alfaiates de Birmingham (1777), pois esta não tinha o caráter de abastecimento de sócios. Talvez esta seja a primeira cooperativa de produção destinada a abastecer o mercado, e desta forma se colocar como uma nova forma de organização social do trabalho, procurando competir com as empresas capitalistas.

O legado destas experiências foram as iniciativas posteriores dos sindicatos que buscaram organizar cooperativas em base owenista, para minimizar os males causados pela 'sociedade capitalista competitiva'. Entretanto todos os idealizadores destas cooperativas estavam “na busca de uma nova ordem social” baseadas na fraternidade humana.

Num segundo momento a autogestão foi usada como forma de luta e revindicação pelas condições de vida e trabalho. Mas normalmente quando a situação se normaliza ocorre um retrocesso e a desistência da autogestão, ou até mesmo a impossibilidade de se manterem frente as investidas capitalistas. Talvez isso ocorra pela própria cultura de submissão, que sempre esteve presente nas classes pobres (não especializadas) e a necessidade imediata de prover o sustento.

O caso dos trabalhadores da LIP Co. é um exemplo clássico de trabalhadores que assumem a fábrica como resposta a todo um processo de modernização capitalista.

Os Lips assumem a produção da fábrica, essa escolha não era uma crítica ao atual modelo de produção, os trabalhadores revindicavam formas para a garantia dos salários. Se organizam para produzir e vender para que fosse possível o pagamento dos salários” (Os Lips).

Singer define que as instituições anticapitalista são 'sementes socialistas plantadas no poros do capitalismo', e que por todo tempo procuram brechas do sistema para se instalarem. A formação de cooperativas de consumo e de produção são formas de preencher lacunas deixadas pelo capitalismo. É a resposta para a relação que as empresas capitalistas desenvolvem com seus clientes, pois só buscam o lucro e não a satisfação e bem estar daquele que usufrui do produto adquirido. Desta forma os trabalhadores ao organizarem nesta forma de distribuição de produtos se protegem da exploração do sistema de produção e consumo.

Entretanto muitas empresas tornam-se cooperativas devido falências e desistência de seus proprietários. Esta cooperativas com o tempo conseguem se reorganizar, mas precisam de apoio e financiamento, como qualquer outra empresa capitalista.

Entretanto a possibilidade da existência das formas autogestionárias sempre foram difíceis devido a constante pressão do capitalismo. O uso de máquinas e a constante revolução tecnológica, faz com que a produção dependa de grandes investimentos, o que esse pequenos grupos não são capazes de manter. Como também os custo de produção são diluídos na cadeia produtiva e na grande quantidade o que também não é possível a pequenos grupos.

Além do mais, faz-se necessário a organização de um mercado consumidor dos produtos destas organizações cooperativas, para que estas tenham sustentabilidade. Este mercado precisa ser mais amplo do que os sócios. Não pode ser apenas para abastecimento dos sócios, ficando a cooperativa dependente de um grupo específico. Para que uma parte dos tralhadores se mantenham de forma autônoma, produzindo e consumindo, sem a presença do patrão é necessário que outra parte dos trabalhadores estejam trabalhando para o capitalista, mantendo fonte de renda para consumo do excedente da produção cooperativista.

As vezes estas cooperativas funcionam por anos, mas com o tempo perdem sua capacidade frente as transformações capitalistas e também por perderem seus sócios. Por isso o desenvolvimento da educação dos sócios nos princípios do cooperativismo é um investimento para que as futuras gerações mantenha o projeto. Uma educação cooperativista é muito importante para manter este legado.

As cooperativas fazem parte do movimento operário de confronto e adaptação ao capitalismo, a classe trabalhadora vai a todo tempo procurando formas de resistência ao sistema capitalista, e em suas brechas cria formas não capitalistas de relação de trabalho.

Uma exemplo interessante deste movimento são as experiências de organização de armazéns coletivos para distribuição da produção das cooperativas operárias, resposta às demissões em massa de trabalhadores, que se organizam em cooperativas para atuarem no mesmo ramo do patrão, um movimento de resistência.


1New Harmony, Ralahine Co-operative Community, Queenswood

2Os sindicatos organizavam caixas para financiamento deste projetos, que não eram sustentáveis por si próprios. E também existiam pessoas que matinham estas “aldeias comunitárias”: Abranham Combe, John Scott Vandaleur, Robert Owen.


SINGER. Paul. Uma utopia militante. - Parte III – A revolução social socialista.

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