quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Autogestão utopia revolucionária?

Muitas vezes os debates entorno da autogestão estão ligados a processos de trabalho já existentes, ou a trabalhadores que há tempos estão inseridos nesta relação. Para estes a coisa tá lá, no dia a dia .... esta diante de cada um.

E quando tratamos de uma população que não se insere no tal 'mercado de trabalho', que sempre viveu de bicos, pequenos trabalhos, informalidades... ou seja que não tem conhecimento sobre os abusos das relações de trabalho capitalista, e não se sentem classe..... não de identificam como trabalhadores - já que para ser preciso de emprego!

Acompanho um grupo de mulheres a um ano e não consigo ver nelas (como um todo ) um sentimento de coletividade, não se reconhecem como na mesma condição - trabalhadoras e mulheres sem liberdade! Concorrem entre elas, formam sub-grupos, excluem algumas... coisas humanas.

Concordo com Paul Singer que afirma que somente período de grande opressão é o motivador de coesões. As pessoas não andam com essa consciência sobre os processos de dominação do capital. Pelo contrário, ainda vêem nele a possibilidade de ascensão, de consumo e de maior qualidade de vida. O ser humano só é inclinado a liberdade se for criado para isso... se não será submisso por todo tempo.

Talvez grupos de trabalhadores (que estão inserido no processo) consigam adquirir a crítica ao sistema capitalista, pois esse é opressor. Mas aqueles que estão excluídos das 'beneficies' do capital e de seu poder de compra, quererem se inserir.

Acredito que a autogestão seja o grande desafio da transformação da sociedade. Quando conseguirmos romper coma idéia de que a hierarquia é natural talvez possamos estar a um passo do 'paraíso'. (rs)

A possibilidade de socialização dos meios de produção abre espaço para socialização de outras esferas da vida.

As formas cooperativas de trabalho podem oferecer mais do que um salário. É a conquista da existência, existir como ser humano na sua forma mais filosófica, e não como uma mera ferramenta produtiva. Porque é essa existência que faz toda a diferença. O espaço coletivo é um espaço de aprendizagem e descobrimento de uma nova forma de relação social, que vai se opondo ao sistema dominante.

A questão de curtir cultura é também relativo. Qual cultura, a minha, a sua ou a de um modelo dominante. Será que ir ao cinema, comprar revista e livros, ir a teatro são as únicas formas de consumir cultura? Será que uma biblioteca coletiva não proporciona acesso a cultura, será que um cine clube não proporciona a cultura? Será que uma roda de leitura, um sarau, uma roda de música.... sem falar que a cultura pode ser reinventada a todo tempo e isso é que faz a diferença, pois quando reinvento a cultura reinvento a vida.
Sobre inclusão social – não acho que a Ecosol tenha como objetivo final a inclusão de pessoas num sistema existente, acredito que ela quer transformar o sistema existente.

A organização cooperada é a coisa mais difícil de conseguir numa sociedade hierarquizada, egoísta e individualizada. Mas somente a prática diária, a dificuldade de colocar a produção (seja ela qual for) no mercado e a sua superação é que criará espaços para uma sociedade socialista, que rompa com a hierarquia, egoísmo e com a ideia que basta 'eu' para tudo acontecer.... é uma luta e uma conquista diária.... Paul Singer ( Uma utopia militante ) se refere a implantes socialista... achei isso bem interessante.

Prof. Felipe Luiz Gomes e Silva pediu para que todos os participantes definissem o que significava autogestão para Maurício Tragtenberg.

Fiz a seguinte definição:

Autogestão para Maurício Tragtenberg se configura quando vários aspectos da vida social se inter-relacionam. Os trabalhadores ao garantirem por si só suas lutas, sem a necessidade de uma 'vanguarda sindical' os representando assumem um papel de agente da transformação.
Ocorre uma conscientização da classe trabalhadora e esta se descobre capaz de administrar o processo de produção e distribuição (seja em redes solidárias ou mercados capitalistas). Também cria novas formas de organizar o trabalho através da 'ação direta' e assim rompe com as formas tradicionais de organização do trabalho. Desta forma os trabalhadores aparecem como 'sujeitos revolucionários', pois transformam a organização de suas vidas e este é um ato revolucionário.
O movimento autogestionário aparece como resposta a um relação de opressão, no qual os trabalhadores eram submetidos à péssimas condições de trabalho. Como forma de resistência os trabalhadores se organizaram em associações que negavam a estrutura capitalista hierarquizada.
Entretanto esta forma que nega a estrutura capitalista tem de se expandir para outros âmbitos da vida social. É necessário que se inclua na ação direta – autogestionária – espaços culturais e políticos.
A gestão da vida passa ser regida pelas próprias pessoas organizadas em grupos e reunidas em assembléias. Isso seria a superação dos intermediários.
Somente com a prática diária da autogestão, com suas idas e vindas, num zig-zag constante é que se constroem processos autogestionários. Mesmo que as vezes tudo parece uma balburdia, com conflitos intermináveis esses é o processo no qual todos podem participar com a mesma intensidade.

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