domingo, 18 de outubro de 2009

Terra e Liberdade

Direção: Ken Loach

1986 – Itália, Espanha, Reino Unido e Alemanha.

Filme inspirado no livro “Lutando na Espanha” de George Orwell conta a história de David Carr e por consequência uma parcela história da guerra civil na Espanha. O interessante é o foco que foi dado à história, buscando mostrar aspectos poucos conhecidos da guerra civil. A guerra civil aparece como catalisadora da força internacional do movimento de trabalhadores e também das correntes libertárias.

O personagem Davi Carr é membro do Partido Trabalhista Independente da Inglaterra, foi enviado à Espanha para combater junto às milícia que compunham a Frente Popular1 contra o fascismo. Esta milícia estava ligada ao Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM). O POUM representa a união de duas correntes marxista revolucionárias - Esquerda Comunista de Espanha (ICE) e o Bloco Operário e Camponês (BOC).

O filme procurara retratar a organização dos trabalhadores, por meio dos partidos comunistas, que possibilitaram a internacionalização das ideias de resistência e revolução da classe trabalhadora. A milícia organizada do POUM era formada por pessoas de diversas nacionalidades, demostrando a ideia de união de todos os trabalhadores do mundo pela causa comunista. Sem falar em outra frentes como a Brigada Internacional formada por combatentes de diversos países. Os motivadores ideológicos desencadearam uma grande mobilização, muitas pessoas viram na Guerra Civil a possibilidade de realização de suas ideologias.


Qual é o objetivo a ser precorrido: a revolução ou o combate ao fascismo?

Uma das grandes questões da revolução é a proposta de coletivização das atividades produtivas. Mas, talvez, não fosse essa a questão da Guerra Civil, que me parece ter como motivação a luta conta o fascismo e não a 'revolução comunista'.

A cena: A milícia se prepara para lutar pela liberdade de um vila que está dominada pelo exército fascista. Com a vitória a população da aldeia estabelece uma assembléia geral para discutir os rumos da ação. A cena é composta das argumentações de vários personagens... todos em busca de formar um consenso de ideias sobre o que fazer após a conquista de terras. A necessidade de produção de alimentos, a ajuda às causas da revolução suprindo os frontes de suas necessidades. A coletivização imediata, pois a propriedade privada mantém a mentalidade capitalista. “A revolução deve ser feita já, não pode esperar o amanhã”, aparecem com muita convicção, tanto na fala dos moradores da vila como na argumentação do milicianos.

Entretanto essa ideia é rejeitada por um membro da aldeia, que não aceita nenhum dos argumentos. Acreditando que tem direitos individuais sobre suas terras e produção.

Os milicianos são chamados a contribuir com o debate e assim também demostram que não é consenso as formas de encaminhar a luta (revolução). Sendo assim a discussão fica no entorno da preocupação em implantar o comunismo ou optar pela luta antifascista.

Algumas argumentações propunham a ampliação da luta para além da Espanha, pois não é somente a ameaça de Franco, mas também de Mussoline e Hitler e todo um contexto de miséria dos trabalhadores no mundo. Outra era em relação a causa Espanhola só ter o apoio do México e da Rússia e por isso deveriam moderar suas diretrizes. Mas essa era uma ideia isolada dentro da milícia, pois em sua maioria defendiam questões comunistas, de coletivização das forças produtivas.

Consideravam que está ação serviria de exemplo para outros países. E os capitalistas só ficaram satisfeitos quando “diluirmos os nosso ideais”. Por fim os moradores da vila votam a favor da coletivização das forças produtivas. Assim mantém uma postura que vai além do combate ao fascismo, na busca da revolução comunista.

Tudo isso ocorre devido a falta de um projeto unificador dos trabalhadores, existe uma divisão na Frente Popular e esta parece ser uma ação antifascista e não revolucionária. A união de diversas pessoas, que agrupou diversas correntes do pensamento político contra as ações de Franco.


O controle da revolução e o governo democrático.

O Governo em Valência impõem a unificação do movimento e quem não se alinhasse não receberia armas, nem apoio. Com isso a Milícia se reúne para avaliar as vantagens e desvantagens de integrar as forçar armadas oficiais.

Bernard alerta que a criação de um exército com disciplina, hierarquia militar destruirá o espírito revolucionário das pessoas - “É o que Stalin espera”. Entretanto ainda existe uma visão “romântica” sobre a atuação do partido: Davi - “não é possível que isso ocorra, o partido comunista queria a revolução, porque não apoiariam as ações das milicias?!”. A milícia, neste caso, aparece como o coração da revolução. Mas ao mesmo tempo não se obtém controle absoluto sobre ela. É um espaço de cooperação e tudo é decidido no coletivo. Essa força aparece como ameaça ao planos de dominação de Stalin?! Por isso a necessidade impedir a atuação autônoma e colocá-la sob a égide de um poder central e hierárquico. Não é um processo de parceria e sim de subordinação. Todas essa questões são abordadas na discussão entre os milicianos.

Como é possível notar a configuração do movimento antifascista/revolucionário toma novos rumos e isso é só o início de grandes mudanças. Com a dificuldade imposta às milícias o personagem Davi Carr deixa a milícia para incorporar a Brigada Internacional, ordem militar muito mais organizada, com recursos e alinhada com a diretrizes do Partido Comunista (do qual é membro). Neste mesmo momento as mulheres são retiradas da linha de batalha e só podem trabalhar como enfermeiras e cozinheiras, representando um retrocesso nos ideais de igualdade.

Existe uma dúvida histórica em relação a participação do POUM na Guerra Civil, o filme procura mostrar os integrantes do POUM como leais à revolução, com uma base ética e política (coletivização). O filme mostra uma sutil manipulação política no qual o Partido Comunista espanhol influenciado pela URSS (pensamento stalinista) vai eliminado as diversas forças sócio-politica que atuam na guerra civil. O POUM foi acusado de sócio-fascismo, ocorre o fechamento do Jornal ' La Batalha', houve prisões e tortura dos dirigentes. Os jornais noticiam que Trotskistas espanhóis juntam-se a Franco.

Por fim ocorre o golpe final na milícia, o Exército popular comunista impõem que os milicianos deponham as armas. Decretam que esta companhia militar deixa de existir. Os oficiais Juan Vidal, Bernard Gohon, Miguelangelo Campos e Rafael Gimenez foram presos.

Tudo isso aparece como um movimento silenciador das oposições, o movimento de esquerda esta fragmentado, com divergência internas. Uma inversão total pela luta pela liberdade, pelos ideais de igualdade substantiva são atropelados por um modelo dominador que impõem e perpétua valores arraigados na cultura capitalista. A luta das milícias de fato proporcionava uma experiência comunista no qual os objetivos eram para a realização do coletivo e não a realização pessoal. Tudo era discutido e decidido no grupo, as pessoas se aproximavam da história. Passaram a ser agentes da história, intervendo de forma consciente.


O partido comunista e a revolução

O personagem percorre um processo de transformação no seu modo de ver a revolução e o partido comunista. Primeiramente conhece a dor da guerra e da perda de pessoas e depois constata que o partido não corresponde as teorias e ideologias sobre a transformação do mundo.

Com a mudança para Barcelona o filme centra nas disputas travadas entres comunistas e POUM/Anarquistas. Sua vivência no exército popular o faz perceber os conflitos entre as várias vertentes do movimento socialista, a influência da URSS e o stalinismo. Ocorre a quebra da ideia romântica sobre a luta, sobre a revolução.... Neste momento o personagem toma consciência de tudo o que já havia sido dito sobre o Partido Comunista Espanhol e a influência de Stalin.

A luta desmorona na nossa frete, ninguém confia em ninguém”.

O personagem Davi Carr resolve abandonar a Brigata e retornar à Milícia, rasga sua carteira do Partido Comunista como um ato de repúdio por tudo que viu. Reconhece que o “partido é podre, mau e corrupto”. Presenciou a execução de camaradas, prisões e desaparecimentos. A milícia mesmo com poucos recursos, numa luta desigual conseguiu manter o sentimento de comuna, união por objetivos únicos e a necessidade de instaurar uma nova ordem sócio-política.


Entre na batalha. Nela ninguém perde.

Mesmo para aquele que perde,seus efeitos ainda prevalecem .

Willian Morris


1 Frente Popular era formada por partidos republicanos de esquerda, socialistas e comunistas. Integravam a frente, entre outras organizações, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), o Partido Comunista da Espanha (PCE), o Partido Operário de Unificação Marxista (POUM), além dos partidos republicanos Izquierda Republicana (IR) de Manuel Azaña e a União Republicana (UR) de Diego Martínez Barrio. O pacto era apoiado também por nacionalistas catalães (Esquerra Republicana de Catalunya) e galegos (Partido Galeguista). Os anarcosindicalistas da Confederação Nacional do Trabalho, embora não fizeram parte da Frente, não se mostraram beligerantes com ela, obtendo por isso muitos votos anarquistas (os quais, tradicionalmente, não votavam).- in http://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_Popular_(Espanha)

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